DEPRAVAÇÃO TOTAL
A medida em que consideramos o primeiro dos cinco pontos do calvinismo,
certamente o que deve nos impressionar é o fato
deste sistema começar por algo fundamental á questão da salvação, a
saber, uma avaliação correta da condição daquele que deverá ser salvo. Se
tivermos uma perspectiva deficiente e amena sobre o pecado, então estamos
sujeitos a ter uma perspectiva deficiente quanto aos meios necessários para a
salvação do pecador. Se acreditarmos que a queda do homem no jardim do Éden foi
só parcial, então é provável que fiquemos satisfeitos com uma salvação que seja
atribuível parcialmente ao homem e parcialmente a Deus. Como palavras de J.C.
Ryle sobre o assuntos são cheios de bom senso! “Existem muito poucos erros e
doutrinas falsas”, diz ele, “cujas origens não possam ser vinculadas a pontos
de vista incorretos sobre a corrupção da natureza humana. Perspectivas erradas
sobre uma doença sempre trarão consigo perspectivas erradas sobre uma cura. Perspectivas
erradas sobre a corrupção da natureza humana sempre trarão consigo perspectivas
erradas sobre o grandioso antídoto e cura daquela corrupção”.
Com plena consciência de que este
era o caso, os teólogos da reforma e aqueles que reduziram os ensinamentos reformados
a esses cinco pontos no Sínodo de Dort, baseando seus julgamentos firmemente
nas Escritura, afirmaram que o estado natural do homem era de total depravação,
e portanto havia total incapacidade do homem para obter ou contribuir a favor
de sua própria salvação.
Quando os calvinistas falam de em depravação total, entretanto, não
querem dizer que todo homem é tão mau quanto poderia ser, nem que o homem seja
incapaz de reconhecer a vontade de Deus: nem ainda que seja incapaz de fazer o
bem para os seus semelhantes, ou até de ser submisso extremamente ao culto a
Deus. O que querem dizer é que quando o homem caiu no Jardim do Éden, caiu em
sua “totalidade”. A personalidade do homem foi afetada como um todo pela Queda,
e o pecado atinge a todas as faculdades – a vontade, o entendimento, as
afeições, etc. Acreditamos que isso é irrefutavelmente ensinado na palavra de
Deus, á qual passamos a nos referir. O segue é somente uma seleção da
Escrituras que confirmam os ensinamentos da teologia reformada calvinista sobre
a depravação total.
A Bíblia ensina com clareza absoluta que o homem, por natureza, está
MORTO:“Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo
pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos
pecaram”(Rm 5.12).
A Bíblia nos diz que o homens estão AGRILHADOS. “disciplinando com mansidão os que se opõem,
na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem
plenamente a verdade, mas também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos
laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade”(2Tm
2.25-26).
Mostra-nos que o homem é CEGO e SURDO. “...mas, aos de fora, tudo se ensina
por meio de parábolas, para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam
e não entendam”(Mc 2.11-12).
Mostra-nos, também, que somos IGINORANTES. “Ora, o homem natural não
aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode
entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”(1Co 2.14).
A Bíblia fala de nós como sendo PECAMIOSOS POR NATUREZA.
1º Por nascimento: “Eu nasci na iniqüidade,
e em pecado me concebeu minha mãe”(Sal 51.5).
2º Por pratica: “Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado
na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração”(Gn 6.5).
Esse então é o estado natural do homem. Portanto, devemos perguntar:
podem os MORTOS se levantar? Podem os PRESOS se
libertar? Podem os CEGOS dar-se visão, ou os SURDOS audição? Podem os ESCRAVOS
se remir? Podem os IGINORANTES ensinar a si mesmo? Podem os PECAMINOSOS POR
NATUREZA mudar a si mesmo? Certamente que não! “Quem do imundo tirará o puro?”
pergunta Jó; e responde “Ninguém” (Jó 14.4).
“Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas?
Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal”(Jr 13.23).
Poderia a Palavra de Deus mostrar mais claramente do que faz, que a
depravação total? O quadro é de morte – morte espiritual. Somos como Lázaro em
seu túmulo; mãos e pés amarrados; fomos tomados pela corrupção. Assim como não
havia qualquer lampejo de vida no corpo morto de Lázaro, assim também não há “centelha
interna receptiva” em nossos corações. Mas o Senhor opera o milagre – tanto com
o fisicamente morto, quanto com o espiritualmente morto; pois “Ele vos deu
vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados”(Ef 2.1). Salvação, por
sua própria natureza, tem que ser “do Senhor”.