quinta-feira, 6 de julho de 2017

A INFINITUDE DE DEUS

Pr. David Marcos, Quarta, 08 de Janeiro de 2014 

“Levante-se, homenzinho! Deixe por um pouco as suas ocupações, afaste-se um momento dos seus pensamentos perturbadores. Deixe de lado o fardo dos seus cuidados, e guarde para depois os seus negócios trabalhosos. Tome algum tempo para passar com Deus, e descanse nele por um pouco. Entre na câmara interior da sua mente; desligue todo pensamento que não seja de Deus e daquilo que possa auxiliar você a busca-lo. Fale agora, de todo o coração! Fale agora a Deus: Eu busco a tua face. A tua face, Senhor, eu buscarei”. Anselmo (teólogo italiano do século XI)
Nós seres humanos, calculamos, rotulamos e qualificamos tudo ao nosso redor através de medidas. O peso indica a força da gravidade da terra sobre os corpos celestes. A distância mede os intervalos entre os corpos no espaço. O comprimento significa a extensão no espaço. Existem outras medidas que são utilizadas para líquidos, energia, som, luz e números. Também tentamos medir coisas abstratas, por exemplo, falamos de grande ou pequena fé, alta ou baixa inteligência, maior ou menor talento. Nada disto se aplica a Deus! Os nossos conceitos de medida se aplicam a homens, montanhas, estrelas, átomos, gravidade, velocidade, mas eles jamais poderão medir a Deus. Isto porque as medidas mostram as limitações e as imperfeições daquilo que foi medido. Deus está acima, além e fora de tudo isto.
As ferramentas de medição são aplicáveis as obras de Deus, mas não a Ele. Não temos como falar de medidas e quantidades, tamanho e peso ao nos referirmos a Deus. É impossível medir ou quantificar as características do Ser divino. Tudo que Deus é, Ele o é sem crescimento, soma ou desenvolvimento. Nada em Deus é menos ou mais, grande ou pequeno.
O atributo divino que nos ensina todas estas coisas é o atributo da infinitude de Deus. Dizer que Deus é infinito é dizer que não existe meio de medi-lo. O que Deus é, e tudo que Deus é, Ele o é sem limite algum.
A infinitude de Deus está diretamente ligada a todos os outros atributos de Deus. A bondade de Deus é infinita, a misericórdia de Deus dura para sempre, o seu amor não tem limites. Isto significa que se existissem dez mil mundos como este, a todos eles o amor de Deus contemplaria. Isto significa que a misericórdia infinita de Deus continuará, em todos os dias de nossas vidas, nos livrando daquilo que nós merecemos. A graça infinita de Deus continuará nos oferecendo inúmeras bênçãos que nós não merecemos. Quando você cometer aquele pecado trigésima terceira vez, Deus poderá perdoá-lo se você o buscar.
Outra característica muito interessante da infinitude de Deus é o fato de que é bem possível que existam atributos divinos que sequer imaginamos. Se Deus não conhece limites, isso significa que podem existir atributos divinos que não conhecemos ou que não possuem significado para nós seres humanos. Por exemplo, qual o significado da misericórdia e da graça de Deus para os anjos? Por nunca terem pecado, jamais tiveram necessidade destes atributos divinos. Portanto, visto que Deus é infinito, podem existir outros aspectos da personalidade dEle que não nos foi revelada. São como a face oculta da lua, existe, mas nunca foi explorada. Assim como a misericórdia e a graça não possuem nenhum significado para os anjos, pode ser que existam atributos divinos que não possuem nenhum significado para os homens.
Os teólogos classificam a infinitude de Deus de duas maneiras. Quando relacionada ao tempo, eles a chamam de Eternidade. Quando relacionada ao espaço, eles a chamam de Onipresença. Hoje falaremos da Eternidade e na próxima mensagem da Onipresença.
A ETERNIDADE DE DEUS

“Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade tu és Deus”. (Salmo 90:2)  Quem veio primeiro o ovo ou a galinha? Criacionismo e Evolucionismo apresentam respostas divergentes. Os criacionistas entendem que a Galinha, assim como os outros animais ovíparos, passou a existir em primeiro lugar - no ato da Criação - já com a capacidade de botar ovos. Portanto, pelo ponto de vista Criacionista temos a Galinha como antecessora do Ovo. Os evolucionistas entendem que ocorreu todo um processo de evolução até que determinados animais que já nasciam de ovos, viessem a se transformar nas aves. Sendo assim, o Ovo, por ser mais antigo na natureza, antecede a Galinha. Antecede até mesmo os dinossauros e peixes.
Na verdade, grande parte dos cientistas entende que o ovo veio primeiro. Pensam assim porque segundo eles, o material genético não se transforma durante a vida do animal, e a primeira ave que se transformou no que chamamos hoje de uma galinha, existiu primeiro como embrião no interior de um ovo.
Essa questão é chamada de “paradoxo cíclico de causa e efeito”, ou seja, algo cuja existência depende de outra, que por sua vez é a causa da existência de algo. Entendeu? Não?! O fato é que existem algumas explicações, muitas contestações e a discussão permanece.
O que este paradoxo cíclico de causa e efeito, ou seja, esta pergunta do ovo e da galinha nos mostram é o seguinte: O ser humano possui uma enorme inquietação com respeito às origens das coisas. Por que fiquei doente? Por que não consigo me concentrar? Por que ele não me ama? Por que o carro deu defeito? Por que a vida é do jeito que é? Por que nosso relacionamento não deu certo? Por que, por que, por quê...? Quem nunca se perguntou:  “Onde foi que eu errei?” Temos uma inquietação sobre a origens das coisas.
A palavra “origem” só se aplica às coisas criadas. Tudo o que existe um dia foi criado, foi chamado à existência, passou a existir. Isto só não é verdade em relação ao Criador de todas as coisas. Ao pensarmos em qualquer coisa que tenha origem, não estamos pensando em Deus, afinal, o nosso Criador, é auto existente, não tem origem. É exatamente isto que o distingue de tudo o que existe. Este é um dos motivos pelos quais Ele é Deus.
Quando refletimos sobre a origem das coisas, chegamos a algumas conclusões. Primeiro, tudo o que existe foi criado por alguém, e este alguém não foi criado por ninguém. Segundo, aquilo que existe precisa ter uma causa anterior, o menor não pode produzir o maior. Terceiro, aquele que é o causador de tudo, não foi causado por ninguém.
Quando você era criança, certamente você se deparou com o seguinte raciocínio: “Quem criou Deus? De onde veio Deus? Quem criou o Criador de Deus?” Este pensamento teve início numa outra reflexão: “Quem criou papai? Vovô. Quem criou vovô? Bisavô. Quem criou o bisavô...?” E assim a criança chega até Deus. A criança que faz este raciocínio já possui os conceitos de causa, fonte e origem. Ela sabe que tudo o que está a sua volta veio de algum lugar. O que este pequeno filósofo está fazendo ao raciocinar desta forma é estender o raciocínio até Deus. E quando ele chega em Deus... o raciocínio trava! É preciso ensiná-lo que Deus não teve origem.  Ela terá dificuldade de entender isso. Aliás, nem as melhores mentes deste mundo conseguem raciocinar bem sobre este assunto. Nossa mente finita e limitada não consegue pensar em algo que não teve origem. É neste momento que entra a fé ou a descrença. É neste momento que precisamos lembrar que Deus é incompreensível
Infelizmente, pensar na eternidade de Deus é um assunto que não atrai muito a atenção das pessoas. Primeiro porque nos humilha, afinal, nos mostra como somos pequenos, efêmeros e passageiros. Segundo porque preferimos pensar em coisas mais fáceis, mais práticas: “Como acabar com a ansiedade? Como manter a esperança mesmo desempregado?” “O que fazer com o meu filho rebelde? Qual o segredo para uma família feliz?” “Como proceder com o marido incrédulo?” “Quais são os doze passos para a felicidade? E os cinco caminhos para um casamento feliz?”.
Pensamos que um assunto como este é para grandes teólogos, filósofos e pensadores... Alguém colocou na nossa cabeça que temas como este é para serem estudados em seminários. Ledo engano. Este assunto é ensinado em vários momentos nas Escrituras: “O número dos seus anos não se pode calcular” (Jó 36:26). “Eu sou o Alfa e o ômega, aquele que é, que era e que há de vir” (Ap. 1:8). “Antes que Abraão existisse, EU SOU” (Jo. 8:58)Esta expressão revela uma existência contínua, que existe eternamente. Portanto, fica claro que este é um assunto que Deus desejou que aprendêssemos e nele meditássemos.
 “De eternidade em eternidade tu és Deus”. (Sl. 90:2) A física afirma que a matéria, o tempo e o espaço precisam ocorrer ao mesmo tempo. Se não há matéria, não pode haver nem espaço nem tempo. Ou seja, antes de Deus criar o universo, não havia “tempo” como nós, seres humanos, conhecemos. Nós conhecemos o tempo como uma sucessão de eventos, tendo a relação do “antes” e do “depois” nos concedendo a noção de tempo. Nós esperamos que o sol se mova do leste para o oeste, aguardamos o ponteiro do relógio dar voltas no mostrador. São situações assim que nos concedem noções de tempo.
Quando a física afirma que a matéria, o tempo e o espaço precisam ocorrer ao mesmo tempo, ela nos ensina que o tempo não possui existência própria. Ou seja, o tempo só passou a existir no momento em que apareceram a matéria e o espaço. Em outras palavras, no momento em que Deus criou o universo. Que coisa impressionante! “Começou” é uma palavra que se aplica ao tempo, mas não ao Criador. Talvez seja por isso que Isaías falou que o nosso Deus é o “Pai da eternidade”, aquele que é o Criador do tempo. Passado, presente e futuro são marcações de tempo para nós, homens mortais, não para Deus.
Isso nos conduz a outra reflexão importantíssima! Para Deus, tudo o que vai acontecer já aconteceu. Ele vê o fim e o início de uma única vez. Deus olha para o tempo, para as eras, para os milênios como se fosse uma coisa só. Pois mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi e como a vigília da noite”. (Sl. 90:4) Todos nós, ao contrário dos elefantes, não conseguimos guardar acontecimentos de anos atrás. Nossa memória consegue guardar apenas episódios recentes. Para muitas pessoas (eu) meses e semanas já é um suplício!Os políticos adoram esta característica humana. O salmista nos diz que Deus percebe mil anos “como o dia de ontem”. Ele consegue se lembrar detalhadamente de todos os acontecimentos de mil anos atrás como se os mesmos tivessem ocorrido a menos de 24 horas. Desejando fortalecer a ideia, o salmista diz que para Deus mil anos são como “a vigília da noite”. É como se aquilo que aconteceu há um milênio tivesse acontecido 4 horas atrás!
Vale lembrar que a expressão “mil anos” é apenas uma maneira encontrada pelo salmista para expressar a maneira com que Deus se relaciona com o tempo. Isso não significa que o que aconteceu a 1100 ou 1200 anos atrás Deus não se lembre. O que o salmista está nos ensinando é que Deus enxerga toda a história como uma coisa só. Passado, presente e futuro estão diante de Deus como uma coisa só.
Por outro lado, preste atenção no que diz o apóstolo Pedro: “Para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia”. (II Pe. 3:8) Percebeu a diferença? Pedro está citando o salmista, no entanto, ele nos dá um detalhe a mais: “Um dia é como mil anos”. Qualquer dia, do ponto de vista divino, parece durar “mil anos”. É como se esse dia jamais terminasse, mas estivesse sempre sendo vivido. Qualquer dia para Deus parece estar acontecendo continuamente.
Juntando a expressão do salmista e a do apóstolo Pedro poderíamos dizer que para Deus qualquer período extremamente longo de tempo é como se tivesse acabado de acontecer. Qualquer período muito curto de tempo – um dia, por exemplo – é como se durasse para sempre. Moral da história: O que aconteceu jamais deixa de ser “presente” na mente de Deus. “Eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim, que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam”. (Is. 46:9,10)
“De eternidade em eternidade tu és Deus”. (Sl. 90:2) Apesar de estar acima e de não ser influenciado pelo tempo, Deus age no tempo. A ação de Deus acontece no tempo e não fora dele. “Vindo a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei”. (Gl. 4:4,5) Paulo nos diz que Deus estava atento aos acontecimentos que se sucediam no tempo. E quando chegou o momento certo, na“plenitude dos tempos” Ele enviou o seu Filho ao mundo. Outro texto que mostra a atuação de Deus dentro do tempo é o de Atos 17:30,31: “Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam; porquanto estabelece um dia que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou”. Essa afirmação de Lucas inclui uma descrição de como Deus agiu no passado, a maneira de Deus agir no presente e uma ação divina nos dias que estavam por vir, ou seja, no futuro. Ou seja, apesar de estar acima e de não ser influenciado pelo tempo, Deus age no tempo.
Quais aplicações deste atributo divino podem ser retiradas para as nossas vidas?
Primeiro, a eternidade de Deus realça a nossa finitude e isto deveria levar-nos a “remir o tempo”. “Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos corações sábios”. Ao contrário de Deus nós temos os nossos dias contados. Não vamos viver para sempre neste mundo no qual estamos. Tal realidade deve nos levar a refletir sobre várias coisas.
Uma das reflexões que este assunto deve infundir em nós é sobre prioridades. Spurgeon dizia que para o pastor é mais importante aprender a dizer “não” do que aprender grego. Não importa quantas coisas o pastor tente fazer, sempre haverá mais a ser feito. “Algumas coisas boas que tentam exigir a atenção do pastor têm de ser deixadas sem fazer! Isto é preciso acontecer para que ele possa fazer aquilo que é mais excelente!”. Nós criaturas finitas, devemos aprender a dizer “não” sem nenhum constrangimento. Dizer “não” para coisas boas, agradáveis, e até para oportunidades maravilhosas. Se o seu limite de tempo, baseado em prioridades mais elevadas, não deixar espaço para estas coisas, não tenha nenhum constrangimento de dizer “não”.  Isso nunca é fácil nem agradável. Mas é o correto.
Alguém certa vez observou o seguinte: Para você perceber o valor de "um ano", pergunte a um estudante que repetiu de ano. Para perceber o valor de "um mês", pergunte para uma mãe que teve seu bebê prematuramente. Para perceber o valor de "uma semana", pergunte a um editor de um jornal semanal. Para perceber o valor de "uma hora", pergunte aos amantes que estão esperando para se encontrar. Para perceber o valor de "um minuto", pergunte a uma pessoa que perdeu um trem. Para perceber o valor de "um segundo", pergunte a uma pessoa que conseguiu evitar um acidente. Para perceber o valor de "um milésimo de segundo" pergunte a alguém que ganhou a medalha de prata numa competição de natação em uma olimpíada.
Jonathan Edwards certa vez disse o seguinte: “È possível perder dinheiro e recuperá-lo mais tarde. Semelhantemente, posso perder a saúde e ainda recuperá-la. Poso até perder um relacionamento e restaurá-lo depois. Mas a perda de tempo nunca poder ser recuperada”.  Rubem Alves também dá a sua contribuição: “Quem sabe que o tempo está fugindo descobre a beleza única do momento em que nunca mais será”.
O contraste da eternidade de Deus com a nossa finitude e limitação deve levar-nos a estabelecer prioridades. “Logo estaremos na eternidade e então perceberemos que importava muito pouco se algumas coisas eram feitas ou não; contudo, agora corremos como se fossem de importância máxima. Quando éramos crianças pequenas, recolhíamos, animadamente, pedaços de telhas quebradas, varetas e lama para usar na construção de uma casa e de outros pequenos prédios e, se alguém os derrubasse, ficávamos extremamente tristes e como chorávamos! Hoje, no entanto, compreendemos que essas coisas não tinham grande valor. Um dia será assim para nós no céu, quando compreenderemos que algumas das coisas às quais nos apegamos na terra eram fixações infantis”. (Françoise Fenelon)
Segundo, o inimigo da Terra se tornará um aliado no céu. Nós, pobres criaturas, somos seres extremamente limitados. Os dias e anos de nossa vida são poucos e rápidos. Nosso corpo nos impõe uma série de limitações. Quantas coisas gostaríamos de aprender, de fazer, de conhecer, de realizar... mas o tempo não permite. Quantas viagens gostaríamos de fazer, quantos lugares por conhecer... mas o tempo não nos permite. Quantas possibilidades, quantas oportunidades, quantas portas que se abrem... mas o tempo não permite. Quantos livros para ler, filmes para ver, encontros para participar, entretenimento para usufruir... Mas o tempo não permite! Com Deus não é assim. Para Ele o tempo não passa, permanece. Anos de eternidade se encontram à sua disposição. Deus não tem pressa, não tem que correr contra o tempo.
Esta verdade acerca de Deus será verdade a nosso respeito lá no céu. Para aqueles que estão em Cristo o inimigo da terra se tornará um aliado no céu. Lá no céu desfrutaremos de todas estas oportunidades! Lá no céu iremos usufruir do tempo sem limites, dos anos sem fim.
Terceiro, Deus é ao mesmo tempo infinito e pessoal. Esta é mais uma doutrina que faz do cristianismo uma religião singular. Este Criador que está muito acima de qualquer coisa que exista, relaciona-se conosco como uma pessoa, dando-nos o privilégio de falar com Ele, clamar a Ele, relacionar-se com Ele, amar a Ele, obedecer a Ele. Você tem noção disto?! O Criador deste universo está acessível a mim e a você!
Nenhuma outra religião do mundo ensina esta doutrina. Quando Jesus apareceu chamando a Deus de “Aba”, isto foi um grande escândalo entre os judeus. Os deuses da mitologia grega e romana eram pessoais – relacionavam-se com pessoas – contudo, não eram infinitos, tinham fraquezas, falhas morais, rivalidades mesquinhas. O deísmo retrata um Deus infinito, contudo, afastado do mundo, alguém que criou e abandonou. O panteísmo também afirma que Deus é infinito, mas incapaz de relacionar-se com pessoas. Estas religiões defendem um deus grandioso, infinito, poderoso, porém, impessoal. Entendem que se Deus é infinito não pode ser pessoal, e se é pessoal, não pode ser infinito.
O Deus revelado nas Escrituras é aquele que conta as estrelas pelo nome, mas também conhece o CPF de cada um de nós; é Aquele que considera as nações como gotas de água dentro de um balde, mas sabe da lágrima que você derramou ontem à noite; é Aquele que criou os luminares e sustenta todo o universo pela palavra do seu poder, no entanto, conhece as dificuldades da sua família, a depressão da sua filha, a incredulidade do seu tio; é Aquele que idealizou cada galáxia deste universo, bem como a digital do seu polegar. O Criador, disse Agostinho, “Cuida de cada um de nós como se não tivesse mais nada para cuidar”.
Compreende que você não está protegido (a) e guardado (a) por qualquer um? O Criador e Sustentador de coisas é aquele que cuida de você. “O que habita no esconderijo do Altíssimo e descansa à sombra do Onipotente, diz ao Senhor: Meu refúgio e meu baluarte, Deus meu em quem confio”. (Sl. 91:1,2)

Nunca se turbe, ó crente, teu triste coração! Eis com ternura exclama, quem te deu salvação:
Confia em mim somente, somente em meu poder, e nas mansões eternas comigo irás viver.

Exulta ó crente, exulta! Ao Salvador bendiz!  Por Ele protegido, és livre e és feliz!

            SOLI DEO GLÓRIA!
            Rm. 11:36

Fonte: http://www.batistareformada.com.br/mensagens_em_texto/127-a-infinitude-de-deus

segunda-feira, 3 de julho de 2017

A Infinidade de Deus



por
Louis Berkhof



Infinidade é a perfeição de Deus pela qual Ele é isento de toda e qualquer limitação. Ao atribuí-la a Deus, negamos que haja ou que possa haver quaisquer limitações do Ser divino e dos Seus atributos. Isto implica que Ele não é limitado de maneira nenhuma pelo universo, por este mundo caracterizado pela relação tempo-espaço, e que Ele não fica encerrado no universo. Isto não implica Sua identidade com a soma total das coisas existentes, nem exclui a coexistência das coisas finitas e derivadas, comas quais Ele mantém relação. A infinidade de Deus deve ser concebida como intensiva, antes que extensiva, e não deve ser confundida com extensão ilimitada, como se Deus estivesse espalhado pelo universo todo, uma parte aqui, outra ali, pois Deus não tem corpo e, portanto, não tem extensão espacial. Tampouco deve ser considerada como um conceito meramente negativo, embora seja perfeitamente verdadeiro que não podemos formar uma idéia positiva da infinidade. É uma realidade em Deus e só por Ele compreendida plenamente. Distinguimos vários aspectos da infinidade de Deus.

1. SUA PERFEIÇÃO ABSOLUTA.
 Esta é a infinidade do Ser Divino considerada em si mesma. Não deve ser considerada num sentido quantitativo, mas qualitativo; ela qualifica todos os atributos comunicáveis de Deus. O poder infinito não é um quantum absoluto, mas sim, uma santidade qualitativamente livre de toda limitação ou defeito. O mesmo se pode dizer do conhecimento infinito, da sabedoria infinita, do amor infinito e da justiça infinita. Diz o dr. Orr: “Talvez possamos dizer que, em última análise a infinidade de Deus é: (a) interna e qualitativamente, ausência de toda limitação e defeito;(b) potencialidade ilimitada”. Neste sentido da palavra, a infinidade de Deus é simplesmente idêntica à perfeição do Seu divino Ser. A prova bíblica disto acha-se em Jó 11.7-10; Sl 145.3; Mt 5.48.

2. SUA ETERNIDADE.
 A infinidade de Deus em relação ao tempo é denominada eternidade – Sua eternidade. A forma em que a Bíblia apresenta a eternidade de Deus é simplesmente a de duração pelos séculos sem fim, Sl 90.2; 102.12; Ef 3.21. Devemos lembrar, porém, que ao falar como fala, a Bíblia emprega linguagem popular, e não a linguagem da filosofia. Geralmente pensamos na eternidade de Deus da mesma maneira, a saber, como duração infinitamente prolongada, para trás e para diante. Mas este é apenas um modo popular e simbólico de representar aquilo que, na realidade, transcende o tempo e dele difere essencialmente. A eternidade, no sentido estrito da palavra, é adstrita àquilo que transcende todas as limitações temporais. Que o termo se aplica a Deus nesse sentido é ao menos ensinado em 2 Pe 3.8. “O tempo”, diz o dr. Orr, “estritamente falando, tem relação com o mundo de objetos existentes em sucessão. Deus preenche o tempo; Ele está em cada partícula dele; mas a Sua eternidade , todavia, não é realmente este estar no tempo. É antes, aquilo com o que o tempo forma um contraste”. Nossa existência é assinalada por dias, semanas, meses e anos; não é assim a existência de Deus. A nossa vida se divide em passado, presente e futuro, mas não há essa divisão na vida de Deus. Ele é o eterno “Eu Sou”. A sua eternidade pode ser definida como a perfeição de Deus pela qual Ele é elevado. Acima de todos os limites temporais e de toda sucessão de momentos, e tem a totalidade da Sua existência num único presente indivisível. A relação da eternidade com o tempo constitui um dos mais difíceis problemas da filosofia e da teologia, talvez de impossível solução em nossa condição atual.

3. SUA IMENSIDADE.
 A infinidade de Deus também pode ser vista com referência ao espaço, sendo, então, denominada imensidade. Esta pode ser definida como a perfeição do Ser Divino pela qual Ele transcende todas as limitações espaciais e, contudo, está presente em todos os pontos do espaço com todo o Seu Ser. Ela tem um lado negativo e um lado positivo, negando todas as limitações do espaço ao Ser Divino, e afirmando que Deus está acima do espaço e ocupa todas as partes deste com todo o Seu Ser. As últimas palavras são acrescentadas para evitar a idéia de que Deus se difunde pelo espaço, como se uma parte do Seu Ser estivesse num lugar e outra parte noutro. Distinguimos três modos de presença no espaço. Os corpos ocupam o espaço circunscritivamente, porque são limitados por ele; os espíritos finitos ocupam o espaço definidamente, visto que não estão em toda parte, mas somente num dado e definido lugar; e, em distinção de ambos estes modos, Deus ocupa o espaço repletivamente, porque ele preenche todo o espaço. Ele não está ausente de nenhuma parte do espaço, nem tampouco está mais presente numa parte que noutra.
Em certo sentido, os termos “imensidade” e “onipresença”, como são aplicados a Deus, denotam a mesma coisa e, portanto, podem ser considerados sinônimos. Todavia, há um ponto de diferença que deve ser observado cuidadosamente. “Imensidade” aponta para o fato de que Deus transcende todo o espaço e não está sujeito às suas limitações, ao passo que “onipresença” denota que, não obstante, Ele preenche todas as partes do espaço com todo o Seu Ser. O primeiro salienta a Transcendência, e o último, a imanência de Deus. Deus é imanente em todas as Suas criaturas, na Sua criação inteira, mas de modo nenhum é limitado a esta. No que diz respeito à relação de Deus com o mundo, devemos evitar, por um lado, o erro do panteísmo, tão característico de grande parte do pensamento atual, com a sua negação da transcendência de Deus e a sua suposição de que o Ser de Deus é realmente substância de todas as coisas; e, por outro lado, o conceito deísta de que Deus está de fato de que Deus está de fato presente na criação per potentiam (com o Seu poder), não porém per essentiam et naturam(com a essência e natureza do Seu Ser), e age sobre o mundo à distância. Apesar do fato de que Deus é distinto do mundo e não pode ser identificado com ele, não obstante está presente em cada parte da Sua criação, não somente per potentiam, mas também per essentiam. Não significa, porém, que ele está igualmente presente, e presente no mesmo sentido em todas as Suas criaturas. A natureza da Sua permanência está em harmonia com a das Suas criaturas. Ele não habita na terra do mesmo modo como habita no céu, nem nos animais como habita no homem, nem na criação inorgânica como na orgânica, nem dos ímpios como nos piedosos, nem na Igreja como em Cristo. Há uma infinda variedade nas maneiras pelas quais ele é imanente em Suas criaturas, e na medida em que elas revelam Deus aos que têm olhos para ver. A onipresença de Deus é revelada claramente na Escritura. O céu e aterra não podem contê-lo, 1 Rs 8.27; Is 66.1; At 7.48, 49; e ao mesmo tempo Ele preenche ambos e é Deus acessível, Sl 139.7-10; Jr 23.23, 24; At 17.27, 28.
Fonte:http://www.monergismo.com/textos/atributos_deus/infinidade_deus_berkhof.htm

quarta-feira, 22 de março de 2017

Fundamentos Reformados: Crente não se suicida?

Fundamentos Reformados: Crente não se suicida?

Fundamentos Reformados: Crente não se suicida?

Fundamentos Reformados: Crente não se suicida?

Crente não se suicida?

Nunca fiz um estudo bíblico detalhado sobre suicídio, apesar de ter escrito sobre eutanásia e muito do que aprendemos sobre esta prática se aplica ao suicídio, pois em ambas situações lidamos com a valorização da vida. Mesmo assim, tenho alguns pensamentos sobre o assunto.

Alguns apontam a morte de Sansão (Jz 16. 29-31) como sendo um exemplo de um servo de Deus que se suicidou. Mas observo que a posição de Sansão não pode ser vista como normativa ou até exemplificativa da questão. Sansão era mais um prisioneiro de guerra, do que qualquer outra coisa. Ele e o país se achavam em uma situação emergencial de conflito, como descrevem os capítulos 13 a 16 do livro de Juízes. Vemos, em sua ação, não um suicídio por desespero, pelo fato de estar cego, mas um ato de um guerreiro que não hesita em sacrificar sua vida em função de uma grande vitória - o seu brado final comprova isso (“morra eu com os filisteus!”).

Uma outra passagem é Jó 6.11. Ali vemos retratado o sentimento e desespero de Jó, no qual ele aventa o suicídio. No entanto, não o faz e não segue o "conselho" dos seus amigos, apesar de clamar: "Por que esperar, se já não tenho forças? Por que prolongar a vida, se o meu fim é certo?".

O apóstolo Paulo, em certa situação, diz preferir a morte mais do que a vida (Fl 1.23-24), mas ele faz uma avaliação racional da situação e verifica que a prioridade não é o alívio de suas dificuldades, que adviria com a morte, mas a fidelidade à sua missão na terra: "Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor. Mas, por vossa causa, é mais necessário permanecer na carne".

Mas e se a racionalidade, que contextualizou as observações de Jó e de Paulo estiver momentaneamente, ou permanentemente, ausente? Será que uma pessoa, crente, não pode ser levada ao suicídio, em situações como esta?Outra questão a ponderar: não temos exemplo de suicídio consciente e aprovado nas Escrituras, mas, quando alguma pessoa coloca a sua vida em risco não dizemos: "isso é suicídio" – ou seja, se alguém sabe que a vida está em risco e não faz nada para impedir o risco e preservar à vida, interpretamos como suicídio. Mas e o caso do Senhor Jesus, que mesmo sabendo que iria morrer, seguiu o caminho da morte. E tem mais - ele disse que ninguém tirava a vida dele, ele a dava voluntariamente. É lógico que temos todos os qualificativos e aspectos de expiação e substituição vicária do plano de redenção e eles nos fazem não considerar a morte de Cristo como "suicídio".

Entretanto, será que não existem outros contextos explicativos, tais como perda da capacidade de raciocínio, ou distorção da capacidade adequada de julgamento, causada por pressão intensa circunstancial, etc. que possam levar um crente a este estágio?

Não tenho as respostas, mas não encontrando uma passagem explícita, nas Escrituras, que indique que o Espírito Santo impedirá que nossa natureza pecaminosa e o pecado do mundo se concretize em tal situação, tenho que deixar a possibilidade aberta e examinar caso a caso, em vez de fechar questão e categoricamente dizer: "crente não se suicida", como sempre aprendi, desde pequeno...

quinta-feira, 31 de julho de 2014




Por Leonardo Dâmaso

Introdução
     
John Macarthur afirma que não há doutrina mais importante para a teologia cristã do que a doutrina da justificação pela fé somente - o princípio sola fide da Reforma.1

Lutero disse que a doutrina da justificação pela fé é o artigo pelo qual a igreja permanece ou cai. Calvino salienta que a doutrina da justificação é o eixo ao redor do qual a igreja gira. Antony Hoekema enfatiza que se a igreja estiver errada nessa doutrina, estará igualmente errada nas demais.2

Explanação

1. A definição de justificação

Em termos simples, podemos definir a justificação como “um ato de Deus pelo qual ele declara o pecador eleito como sendo justo sobre a base da justiça de Cristo, uma vez que a justificação se refere à justiça de Cristo sendo legalmente creditada ao eleito de Deus.”3

Berkhof sintetiza que, com base nessa justiça, todas as ordens da lei são satisfeitas com respeito ao pecador.4 Ou seja, a pessoa passa a ser considerada totalmente justa diante da lei de Deus e todas as exigências da lei são plenamente satisfeitas.5

Nessa mesma linha de pensamento, John Murray afirma que a justificação é simplesmente a declaração a respeito do relacionamento da pessoa com a lei com a qual o juiz tem o dever de julgar.6 John Stott expande este pensamento nestas sublimes palavras:

Justificação é um termo legal ou jurídico, extraído da linguagem forense. O contrário de justificação é condenação. Os dois são o decreto de um juiz (onde se declara o julgado como culpado ou inocente do crime cometido). Dentro do contexto cristão eles são veredictos escatológicos alternativos que Deus como juiz, poderá anunciar no dia do juízo (Hb 4.13). Portanto, quando Deus justifica os pecadores hoje, está na verdade antecipando o seu próprio julgamento, isto é, trazendo até o presente o que de fato faz parte dos últimos dias.7

Portanto, concluímos que a Justificação não é um processo, mas um ato declaratório de Deus. Acontece fora de nós, e não em nós.8 É instantâneo e não gradual. É a ação de Deus em declarar judicialmente que a situação de determinada pessoa está em harmonia com as demandas da lei.9 Noutras palavras, é ser plenamente absolvido do crime cometido como se nunca o tivesse feito.  

2. A necessidade da justificação

A razão insofismável pela qual era necessário haver a justificação é doravante ao pecado. Paulo diz em Romanos 3.23 que todos pecaram, e estão afastados da glória de Deus. (NTLH) Ainda, na carta aos Romanos, o apóstolo expande mais sobre esta realidade da corrupção radical do homem também no (1.21,23-31). Jesus Disse também no sermão do monte em Mateus 5.20 que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus. (ACF)

Não obstante, todos pecaram por estarem unidos pactualmente ao nosso representante federal Adão. Deus imputou o pecado dele a todos. Nós estávamos lá naquele dia em Adão! Partindo deste pressuposto, o homem pós-pecado é morto espiritualmente (Gn 2.16-17; Ez 18.4; Rm 6.23). No entanto, como todos morreram espiritualmente em Adão ao pecar contra Deus, toda a humanidade nasce pecadora, morta espiritualmente e completamente incapaz de se voltar para Deus em arrependimento e fé através de sua escolha (Rm 3.10-12; 1Cor 2.14).

Portanto, foi necessário Deus, pela sua soberania, graça e misericordiosa no conselho trinitariano traçar todo o plano da redenção e enviar Cristo Jesus, o justo, para morrer pelos injustos, para assim sermos justificados por Deus, adotados na família divina e retornarmos novamente a comunhão íntima e profunda com o Pai em espírito (Hb 10.19-20).

3. O autor da justificação

Indubitavelmente, Deus é o autor da justificação dos pecadores eleitos. “A salvação é obra de Deus do começo ao fim. Trata-se de um plano eterno, perfeito e infalível de Deus Pai. Deus planejou nossa salvação antes de lançar os fundamentos da terra.

1 Pedro 1.20 –  Pois vocês sabem que não foi por meio de coisas perecíveis como prata ou ouro que vocês foram redimidos da sua maneira vazia de viver que lhes foi transmitida por seus antepassados, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e sem defeito, conhecido antes da criação do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de vocês. (NVI)

Não foi a cruz que tornou o coração de Deus favorável a nós; foi o coração terno de Deus que providenciou a cruz. O sacrifício de Cristo no calvário não foi a causa da graça, mas o resultado”.10 “Não foi Jesus Cristo quem tomou a iniciativa, no sentido de fazer algo que o pai relutava ou não estava disposto em fazer. Não há dúvida de que Cristo veio por sua própria vontade e se entregou gratuitamente. Mesmo assim, ele o fez em submissão à iniciativa do Pai”11 (Jo 10.17-18).

4. A base da justificação

Se o autor da justificação é Deus, a base da justificação é a justiça de Cristo. Todavia, o fator que predomina nesta justiça é a obediência de Cristo, a qual é composta pelo aspecto ativo, referente à obediência a lei por nós, e a obediência passiva, que consiste no cumprimento penal dos pecados por meio do sofrimento e morte de cruz.

Todavia, não devemos fazer separação entre ambos os aspectos da obediência. Tanto o lado ativo quanto passivo da obediência do Salvador estão praticamente interligados entre si, e apenas formam o pilar da plena obediência que Cristo obteve durante a sua vida impecável em que esteve presente nesta terra, que culmina na sua justiça como base da nossa justificação. Berkhof ressalta que a base da justificação encontra-se somente na justiça perfeita de Jesus Cristo.12

Isaías 53.12 – Por isso, eu lhe darei muitos como a sua parte, e com os poderosos repartirá ele o seu despojo, porquanto derramou a sua alma na morte; foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu. (ARA)

Filipenses 2.7-9 – Ao contrário, esvaziou a si mesmo, ao assumir a forma de um escravo, tornando-se como os seres humanos são (natureza humana afetada pelo pecado). E, quando ele surgiu como um ser humano (no estado de humilhação), humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte – (e)morte na estaca (cruz) como um criminoso! (BJC) ... e ser encontrado nele, não tendo a minha própria justiça que procede da lei, mas a que vem mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus e se baseia na fé. (NVI)

Romanos 3.21-22a – Mas agora se manifestou uma justiça que provém de Deus, independente da lei, da qual testemunham a Lei e os Profetas, justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo para todos os que creem. (NVI)

5. A distinção entre a justiça Transferida e a justiça pessoal

Basicamente, o termo imputar ou transferir significa “atribuir algo a uma pessoa”. “Denota creditar ou pôr esse algo em sua conta. O que é imputado outransferido a pessoa passa a ser legalmente dela; e isto é contado como uma coisa que lhe pertence”.13
 
No contexto bíblico, imputação não significa trocar a natureza ou a essência da pessoa, isto é, a condição anterior, o seu caráter. Entretanto, a imputação somente afeta a posição legal da pessoa. Quando os pecados dos eleitos foramtransferidos para Cristo na cruz, isto não fez de Jesus pecador e tampouco contaminou a sua natureza afetando o seu caráter santo. Essa transferência, na verdade, apenas tornou Cristo o responsável legal pelos pecados dos pecadores eleitos.

Sobre esta questão de justiça imputada, Calvino sintetizou a “iustitia aliena, isto é, a justiça que vem de outro, que vem de fora. Todavia, não há nenhuma dúvida de que aquele que é ensinado procurar justiça fora de si próprio é destituído de justiça em si mesmo. Mais adiante, Calvino diz: Você pode ver que nossa justiça não está em nós, mas em Cristo, e que a possuímos somente sendo participantes em Cristo; de fato, com ele possuímos todas essas riquezas”.14 Portanto, conforme diz as Escrituras, a justiça de Cristo é imputadaou transferida a nós. A nossa justificação vem de fora, iustitia extra nos, procedendo da justiça de Cristo. 

Por outro lado, “devemos também ter o cuidado de não confundir a justiçaimputada (a qual recebemos pela fé e que é a única base de justificação) com os atos pessoais de justiça (santidade), realizados pelos crentes como resultado da obra do Espírito Santo em seus corações”.15

Vicent Cheung, com muita propriedade ressalta que “a justificação é uma justiça imputada, e a santificação é uma justiça infundida. A justificação é uma declaração instantânea de justiça, mas a santificação (progressiva, não no aspecto posicional de santificados) se refere ao crescimento espiritual do crente após ele ter sido justificado por Deus”.16

Romanos 4.6-11 Davi diz a mesma coisa, quando fala da felicidade do homem a quem Deus credita justiça independente de obras: Como são felizes aqueles que têm suas transgressões perdoadas, cujos pecados são apagados. Como é feliz aquele a quem o Senhor não atribui culpa. Destina-se esta felicidade apenas aos circuncisos ou também aos incircuncisos? Já dissemos que, no caso de Abraão, a fé lhe foi creditada como justiça. Sob quais circunstâncias? Antes ou depois de ter sido circuncidado? Não foi depois, mas antes! Assim ele recebeu a circuncisão como sinal, como selo da justiça que ele tinha pela fé, quando ainda não fora circuncidado. Portanto, ele é o pai de todos os que creem, sem terem sido circuncidados, a fim de que a justiça fosse creditada também a eles; (NVI)

6. O agente da justificação

Conforme vimos anteriormente, o autor da justificação é Deus e sua maravilhosa graça; a base da justificação é a justiça de Cristo, não obstante, o agente ou o meio da justificação é a fé. “A regeneração precede tanto a fé como a justificação, e nunca é dito que ela segue ou resulta da fé, nem que deve sempre ser confundida com a justificação. É a regeneração que leva à , e é a que leva à nossa justificação”.17

Gálatas 2.16b – Assim, nós também cremos em Cristo Jesus para sermosjustificados pela fé em Cristo...

É dito na Escritura, principalmente por Paulo no NT, que “a fé justifica porque ela recebe e abraça a justiça de Cristo oferecida no evangelho”.18 “A fé, para Calvino, era apenas a causa instrumental da justificação. Somente Deus justifica. Então, nós transferimos esta mesma função a Cristo porque a ele foi dado ser nossa justiça. Heber Carlos de campos afirma que é pela fé somente que o homem é justificado, mas a fé em si mesma não justifica. Através dela o homem abraça a Cristo por cuja graça somos justificados.19

Comparamos a fé a uma espécie de vaso. A menos que venhamos esvaziados e com a boca de nossa alma aberta para procurar a graça de Cristo, não seremos capazes de receber Cristo.20 Portanto, a fé é nossa resposta divinamente capacitada ao chamado eficaz de Deus, e a justificação é a resposta à nossa fé, a qual, antes de tudo, veio de Deus (2Tm 2.24-26).21

7. Quando ocorre a justificação?

Sobre o tema em pauta, Berkhof escreve:

Em Romanos 8.29-30 a justificação está entre os dois atos de Deus realizados no tempo (antes de todas as coisas), os quais são a vocação eficaz e a glorificação, sendo que esta começa no tempo presente (a partir da conversão) e se completa na eternidade futura. Estes três juntos: conhecimento, predestinação e chamado resultam de outros dois que são explicitamente indicados como eternos, a saber - justificados e glorificados eternamente.

Entretanto, o Espírito não aplicou, nem poderia aplicar este ou qualquer outro fruto da obra de Cristo desde a eternidade. Contudo, podemos falar de uma justificação do corpo global de Cristo que aconteceu em sua ressurreição (Rm 4.25), mas esta justificação é puramente objetiva, e, portanto, não deve ser confundida com a justificação pessoal do pecador (no ato da conversão).22

Portanto, mesmo que os eleitos de Deus já tenham sido conhecidos,predestinadoschamadosjustificados e glorificados por Deus em Cristo antes mesmo da criação e da queda, contudo, os eleitos não nascem regenerados, mas mortos espiritualmente. Sendo assim, eles precisam se arrepender de seus pecados e vir a crer em Jesus como o seu salvador para que possam receber todos os benefícios da obra de Cristo em suas vidas.

8. A extensão da justificação

Via de regra, a extensão da justificação nos remete a extensão da expiação de Cristo. Para entendermos até onde a justificação abarca, precisamos entender primeiro por quem Cristo morreu? Por todas as pessoas ou somente pelos seus eleitos? Conforme diz a tradição reformada – “Deus justifica somente o seu povo, sua igreja, aqueles que pertencem a Deus, aqueles que o Pai entregou ao Filho para que por eles morresse e ressuscitasse”.23

Em Romanos 8.33 é dito claramente que a extensão da justificação está limitada somente aos eleitos de Deus, os quais ele justificou por meio da obra redentora de Cristo. Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. (NVI)
A morte de Cristo pelo mundo inteiro ou por todas as pessoas em geral, conforme vemos dentre tantos textos como (Is 53.4-12; Mt 26.28; Mc 10.45; Jo 1.29; Jo 3.16; Rm 5.7-10; 1Cor 15.3; Gl 1.3-4; Tito 2.14; 1Jo 2.1-2; Hb 2.9; Ap 5.8-9; Mc 4.11-12; Jo 10.11,15, 26-28; Jo 17.6-9, 19-21) não deve ser entendida no âmbito universal, isto é, que a morte de Jesus foi pelos eleitos e para os não eleitos, para os crentes e para os que nunca vão querer ser crentes.

Não obstante, expressões como esta não significam em todo o contexto das Escrituras que a extensão é universal, mas simplesmente ela utiliza destes termos – mundopor todos e por nós para sintetizar a universalidade e diversidade dos vários eleitos espalhados por todo mundo.

Apocalipse 5.9 ... pois foste morto, e com teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, língua, povo e nação. (NVI)
 
Ronald Hanko corrobora que o que tais passagens ensinam é que Cristo morreu por todos os homens sem distinção, não por todos os homens sem exceção. Em outras palavras, tais passagens ensinam que Cristo morreu por todos os tiposde homens (1Tm 2.6a), por todos que estão nEle (1Cor 15.22), ou pelo mundode seu povo, isto é, por seus eleitos de todas as nações.24

Concluímos, então, que, assim como a expiação de Cristo foi limitada, a justificação também é limitada, isto é, restrita e eficaz somente nos eleitos para a salvação. Em contrapartida, quanto à humanidade não eleita por Deus, ainda sim, eles desfrutam e participam também dos benefícios da morte vicária de Jesus, porém, não para a salvação e justificação, mas no que se refere a uma providência geral, que incluí bênçãos materiais, saúde, prosperidade, dentre outras coisas.

Conclusão

Duas considerações finais acerca dos benefícios da justificação:

1) A doutrina da justificação nos dá esperança para a salvação mediante a fé na justiça de Cristo nunca será perdida (1Pe 1.5).

2) A doutrina da justificação nos remete a confiança e alegria de que nossos pecados foram pagos e perdoados na cruz de Cristo pelos seus méritos, e que Deus nunca irá nos punir, nos condenando ao castigo eterno (Rm 8.1). Por outro lado estamos sujeitos a consequência de pecados cometidos e a disciplinas oriundas do Senhor por causa deles (Hb 12.5-11).

Na justificação, Deus não nos torna justos, Ele perenemente nos declara justos, completamente inocentes como se jamais houvéssemos pecado contra Ele! É Deus declarando o culpado como inocente, o injusto como justo!

2 Coríntios 5.19 – Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação. (ARC)

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NOTAS:
1. John Macarthur. Artigo: Muito antes de Lutero: Jesus e a doutrina da Justificação.
2. Antony Hoekema. Salvos pela Graça, pág 155.
3. Vicent Cheung. Teologia Sistemática, pág 184-185.
4. Louis Berkhof. Teologia Sistemática, pág 510.
5. Franklin Ferreira. Teologia Sistemática, pág 254.
6. John Murray. Redenção consumada e aplicada, pág 109.
7. John Stott. Romanos, pág 124.
8. Hernandes Dias Lopes. Comentário Bíblico de Romanos, pág 165.
9. Ibid, pág 166.
10. Hernandes Dias Lopes. Comentário Bíblico de Romanos, pág 168.
11. John Stott. Romanos, pág 127.
12. Louis Berkhof. Teologia Sistemática, pág 520.
13. David S. Steele e Curtis C. Thomas.  Justificação pela Fé (A dupla imputação). Jornal: Os Puritanos.
14. Calvino. Institutas da religião Cristã, III, 11,23.
15. David S. Steele e Curtis C. Thomas. Justificação pela Fé (A dupla imputação). Jornal: Os Puritanos.
16. Vicent Cheung. Teologia Sistemática, pág 188.
17.  Ibid, pág 185.
18. Calvino. Institutas da religião Cristã, III, 11,17.
19. Heber Carlos de Campos. A justificação pela fé nas tradições Luteranas e Reformadas.
20. Calvino. Institutas da religião Cristã, III, 11,17.
21. Vicent Cheung. Teologia Sistemática, pág 185.
22. Louis Berkhof. Teologia Sistemática, pág 516-517.
23. Heber Carlos de Campos. A justificação pela fé nas tradições Luteranas e Reformadas.
24. Ronald Hanko. Doctrine according to Glodiness, Reformed free publishing Association, pág 155-156.

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Fonte: Bereianos
http://bereianos.blogspot.com.br/2014/07/justificacao.html#.U9p7DPldWhM

sexta-feira, 30 de agosto de 2013


Amém é coisa séria!




Amém!



Por Wilhelmus à Brakel


É comum ouvirmos a afirmação que o significado das palavras hebraica e grega traduzidas como “amém” é “que assim seja”. Ouvimos, por exemplo, que devemos finalizar nossas orações com um convicto “amém”, a fim de expressar nosso forte e sincero desejo de que Deus atenda nossas petições. E, de fato, a palavra pode ser entendida dessa forma. Edward Robinson diz que a palavra aparece “usualmente no final de uma oração, onde serve para confirmar as palavras que precedem” (Léxico Grego do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2012. p. 46). Isso pode ser visto, por exemplo, em Neemias 5.13: “Também sacudi o meu regaço e disse: Assim o faça Deus, sacuda de sua casa e de seu trabalho a todo homem que não cumprir esta promessa; seja sacudido e despojado. E toda a congregação respondeu: Amém! E louvaram o SENHOR; e o povo fez segundo a sua promessa” (cf. Deuteronômio 27.15-26; 1Reis 1.36; 1Coríntios 14.16). Não é incorreto afirmar que dizer “amém” é uma expressão de desejo pela consecução daquilo que é pedido ou uma confirmação do que foi afirmado.

Entretanto, a palavra “amém” possui um significado mais solene. O estudiosoHans Bietenhard afirma: “Através do ‘amém’, aquilo que foi falado é afirmado como certo, positivo, válido e obrigatório” (Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Vol. 1. São Paulo: Vida Nova, 2007. p. 110). Trata-se, portanto, de uma afirmação de veracidade. Dizer “amém” é jurar que aquilo que foi afirmado na oração é expressão da verdade. Nesse sentido, quando suplicamos algo a Deus e dizemos “amém”, estamos expressando diante do Senhor que o nosso desejo é sincero e verdadeiro. Quando louvamos a Deus e finalizamos com “amém” estamos afirmando diante d'Aquele que sonda o nosso coração, que verdadeiramente o valorizamos e o consideramos como supremamente valioso.

Esse significado pode ser visto, por exemplo, em Isaías 65.16: “de sorte que aquele que se abençoar na terra, pelo Deus DA VERDADE é que se abençoará; e aquele que jurar na terra, pelo Deus DA VERDADE é que jurará”. A palavra hebraica traduzida pela Almeida Revista e Atualizada como “da verdade” é 'amên. Literalmente, o texto diz: “aquele que se abençoar na terra, pelo Deus DO AMÉM é que se abençoará; e aquele que jurar na terra, pelo Deus DO AMÉM é que jurará”. A ideia é que toda bênção e todo juramento terão a Deus como sua testemunha, Aquele que é a própria verdade, devendo, assim, serem feitos segundo a verdade e por coisas lícitas. Em Apocalipse 3.14, Jesus se identifica para o anjo da igreja de Laodiceia da seguinte forma: “Ao anjo da igreja em Laodiceia escreve: Estas coisas diz o AMÉM, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus”. Ao identificar-se como o “Amém”, Jesus está afirmando que o diagnóstico que ele apresentará a seguir é a mais pura expressão da verdade. Tudo o que ele tem a dizer é verdadeiro e, portanto, digno de crédito e de submissão da parte daqueles que ouvem. Gregory K. Beale diz que, “as três descrições ‘o Amém, a testemunha fiel e verdadeira’ não são distintas, mas geralmente se sobrepõem para sublinhar a ideia da fidelidade de Jesus ao testemunhar diante de seu Pai durante seu ministério terreno e sua continuidade como tal testemunha” (The Book of Revelation. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1999. p. 296). Simon Kistemaker, outro estudioso do Novo Testamento diz que, “o ‘Amém’ comunica a ideia daquilo que é verdadeiro, solidamente estabelecido e fidedigno”. (Comentário do Novo Testamento: Apocalipse. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. p. 225).

De igual modo, quando desejava expressar de forma mais contundente a veracidade do seu ensinamento e como ele deveria ser levado a sério por seus discípulos, Jesus introduzia seus ditos no Evangelho de João com um duplo “amém”, que na nossa tradução aparece como “em verdade, em verdade vos digo”: “E acrescentou: Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem” (1.51; cf. 3.3,5,11; 5.19,24,25; 6.26,32,47,53; 8.34,51,58; 10.1,7; 12.24; 13.16,20,21,38; 14.12; 16.20,23; 21.18). Todo o seu testemunho é verdadeiro. Nele não há engano. Nas suas declarações não existem mentiras. Ele é a verdade e tudo o que Jesus afirma é verdadeiro.

Isto posto, devemos compreender que quando fazemos nossas orações a Deus, louvando-o, bendizendo-o, fazendo súplicas e intercessões, e respondemos com o “amém”, estamos dizendo ao Deus da Verdade, ao Deus do Amém, que nossos desejos são sinceros, que nosso coração está tomado de santas afeições por suas perfeições, majestade e glória. Quando oramos e concluímos com o “amém”, dizemos ao Deus que sonda os nossos corações que tudo o que expressamos é verdadeiro. Por esta razão, devemos levar muito a sério o dever da oração. Devemos nos aproximar de Deus sabendo que ele não vê como vê o homem. Ele vê o coração. Ele sabe quando nossos desejos estão direcionados para outras coisas. Ele conhece a insinceridade dos nossos corações. Quando não somos sinceros ou quando somos indiferentes em nossas orações, o “amém” é uma mentira dita ao Deus que tudo sabe. Por isso, que ele nos guarde de toda mentira e nos preserve no caminho da verdade, para que nossas orações sejam, de fato e de verdade, nas palavras de Wilhelmus àBrakel“a expressão de santos desejos a Deus, em nome de Cristo, que, por meio da operação do Espírito Santo, procede de um coração regenerado, junto com o pedido do cumprimento desses desejos”.

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Fonte: The Christian’s Reasonable Service. Vol. 3. Grand Rapids, MI: Reformation Heritage Books, 1997. p. 446.